Na história dos EUA, o período recriado na tela grande pelos faroestes corresponde a cerca de três décadas, estendendo-se de 1860 a 1890. É fácil notar que, proporcionalmente, nenhuma outra fase na história da humanidade foi tão revisitada, nem mereceu do cinema tamanha atenção.
Não foi por acaso, contudo, que milhares de filmes e seriados, produzidos nos EUA e mesmo em outros países, elegeram a conquista do Velho Oeste como seu principal cenário. Aquelas três décadas hoje mitológicas assistiram a episódios que encontraram nas telas seu abrigo ideal.
Embora fossem de carne e osso, os homens que os inscreveram na história tinham algo de heróis. Assim, coube ao gênero transformar em lenda o que já levava bastante jeito para a coisa – No cinema, o Velho Oeste norte-americano tornou-se uma região mítica governada pelas leis da ficção. Leis que privilegiaram, na primeira fase do faroeste, a idéia de que a colonização branca fez o favor de levar os avanços da civilização a regiões habitadas por “selvagens”. Nos filmes, essas criaturas primitivas e violentas demonstravam inexplicável hostilidade pelos “conquistadores”.
Com isso, reforçava-se” a idéia de que a exploração do continente deveria mesmo ter passado pela pacificação ou, – o que era mais comum, pela dizimação de nações indígenas em nome dos valores que ergueram os EUA. A miopia desse ponto de vista não Impediu, contudo, que surgissem obras-primas como No Tempo dos Diligências (1939), de John Ford, o mestre supremo do gênero.
E, mesmo nesse período inicial, nem só de conflitos com os índios vivia ó faroeste. Diversos filmes preferiram registrar as Inúmeras dificuldades de sobrevivência que se apresentavam aos pioneiros. A luta contra os fora-da-lei que se aproveitavam das circunstâncias para enriquecer já era um pinto cheio.
Nasceu dessa maneira a figura mítica do xerife que põe em jogo a própria vida para manter a ordem na cidade. Entre os inúmeros personagens com esse perfil, o de maior impacto teve origem num delegado de carne e osso, ‘Wyatt Earp, interpretado no cinema por Henry Fonda (em, Paixão de Fortes, 194à, de John Ford), Burt Lancaster (em Sem Lei e Sem Alma, 1957, de John Sturges), Kurt Russell (em Tombstone, 1993, de George Pan Cosmatos) e Kevin Costner, (em Wyatt Earp, 1994, de Lawrence Kasdan).
A partir dos anos 50, o gênero passou a trilhar novos caminhos. Um deles preocupou-se em retratar índio como gente, na tentativa – inicialmente tímida, depois mais incisiva – de lembrar que eles já estavam ali quando chegaram os, brancos. Flechas de Fogo (1950), de Delmer Daves, com James Stewart e Jeff Chandler, é considerado o precursor mais significativo dessa corrente.
Até mesmo John Ford foi aos poucos alterando sua visão do tema. Em Rastros de Ódio (li 95à), por exemplo, o ex-combatente Ethan (John Wayne) parece compreender que a colonização gerou problemas insolúveis. E em Crepúsculo de uma Raça (1964), seu último filme rodado no lendário Monument Valley, o tom já é de mea culpa, ao acompanhar a luta pela sobrevivência de uma tribo.
O faroeste psicológico, por sua vez, ganhou terreno com o êxito de Matar ou Morrer (1951), de Fred Zinnemann, que provocou uma resposta enérgica de Howard Hawks com Onde Começa o Inferno (1959). Duas obras-primas antagônicas a respeito da figura mitologia do xerife: no primeiro, o personagem de Gary Cooper pede a ajuda da população para enfrentar uma quadrilha, sem êxito; no segundo, John Wayne despreza qualquer auxílio.
Até os anos 90, as últimas novidades do gênero tinham sido o estilo ultra-realista de Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Tua Herança, 1969; Pat Garrett e Billy the Kid, 1973) e o faroeste-espaguete surgido na Itália nos anos 60, célebre ao menos por revelar o talento de Sergio Leone (Três Homens em Conflito, 1966; Era uma Vez no Oeste, 1969). Dizia-se que o faroeste estava morto e ainda não sabia.
Então, – duas super-produções conseguiram dobrar o preconceito da Academia de Hollywood e ganhar o Oscar de melhor filme. Dança com Lobos (1990), de Kevin Costner, é um faroeste ecológico, enquanto Os Imperdoáveis (1991), de Clint Eastwood, vira do avesso algumas convenções do gênero. Com eles, manteve-se acesa a chama do Velho Oeste.
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![]() Era Uma Vez no Oeste |
Os Imperdoáveis |
![]() Johnny Guitar Johnny Guitar (1954) |
Matar ou Morrer |
Meu Ódio Será Sua Herança |
![]() No Tempo das Diligências |
![]() Pequeno Grande Homem |
Ratros de Ódio |
![]() Rio Vermelho Red River (1948) |
Sete Homens e Um Destino |

